domingo, 19 de junho de 2011

Crianças do futuro

Será que as crianças sempre surpreenderam os adultos como eu vejo agora? Os que estão na 3a idade talvez possam me responder pois já viram duas gerações chegando.

Tenho acompanhado o desenvolvimento do meu sobrinho, de três anos. Ele tem crescido muito em estatura nos últimos meses. Desde bebê, ele adormece no sofá de dois lugares na sala, no final da tarde. Na semana passada notei que ele já quase não cabe mais naquele lugar. Foi então que comecei a falar que ele estava crescendo muito e que eu queria que ele ficasse pequenininho. Com uma compreensão cheia de amor, ele sempre atende nossos pedidos. Dia desses estávamos no shopping. Saímos de uma loja, olhei para ele e falei "Vem no meu colo". Na fase dos mil porquês, ele perguntou, claro, o por quê da minha loucura de última hora. Eu disse que era porque ele estava crescendo muito e eu queria aproveitar enquanto ainda aguentava o peso dele. Ele estendeu os bracinhos na hora. Coloquei-o no chão quando entramos em outra loja. Ao sair, ele se antecipou "Tia, pode me pegar de novo que eu vou crescer amanhã!".

Ao chegar em casa, continuamos o papo sobre crescer. Eu estava na cozinha preparando a mamadeira do final da tarde e falando com ele, que já estava se aconchegando naquele sofá de dois lugares. Resmunguei a mesma ladainha sobre ele se manter pequenininho. Ele, muito decidido e eloquente, continuou dizendo que iria crescer e apareceu na cozinha com um porta-retrato nas mãos: "Tia, eu era piquininho, olha aqui na foto (foto dele quando era bebê). Eu era piquininho lá na casa velha (casa antiga que morávamos no Tatuapé até os dois anos dele). Viu, tia, agora eu vou ser grande mesmo".

domingo, 29 de maio de 2011

Meio fio

Vinha andando pela calçada. Não encontrou morada noutro lugar. Aqui parou. Aqui ficou. Aqui viveu. Era inverno, como agora. O frio, porque será nos deixa assim tão melancólicos? Ah, fosse verão! Quem resistiria a seus olhos de mel ainda mais doces e irresistíveis com o tom bronzeado? Ah, fosse verão! Quem resistiria à marca do biquini no ombro dourado? Mas, no Inverno, quem veria o seu corpo debaixo de tanta lã? Tampouco suas pernas, agora ressequidas pois faltava-lhe coragem de passar aquele hidratante delicisoso e perfumado no corpo todo tamanho o frio! O hidratante virou gelo no armário. O armário virou um iceberg em sua casa. Sua casa virou um continente gelado naquela calçada.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Fluir

Mil livros para ler
Mil ideias para ter
e o congestionamento
de SPaulo para me enlouquecer.
Duas horas para se chegar a um local
e, em menos de 20 segundos,
minha mensagem chega a qualquer lugar
do mundo pela Internet.
O congestionamento poderia
ir para a Internet.
O trânsito fluiria melhor nos sites
e eu chegaria mais rápido em
meu destino,
do outro lado do virtual
e do outro lado da marginal.

domingo, 17 de abril de 2011

Whispering

All those flowers
you brought me yesterday
are still leaving today

All those kisses
you gave me
are still on my face

All those words
you told me
were gone when you slam the door

sábado, 16 de abril de 2011

Heartless

I will take a rest
I am tired of sadness
And all that you said
I will forget
I will pretend I was dreaming
I will leave
with one hand
because the other one
stayed with you to protect you
This hand doesn´t know
what to do without that one
It tries to write about my fears
It tries to count the years
But it can´t
It just holds my tears.

Broken dishes

You broke
the dishes
and then you
apologised
I will tell you
You broke not
only the dishes
but the place where
I put my love to you.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Somos todos juízes

De todos os mandamentos, creio que o que mais praticamos e, às vezes, com consentimento, é o do julgamento – e veja que aqui já estou julgando. Há uns dias, foi notícia em vários veículos o drama de uma mãe que deu à luz trigêmeas e deixou uma, aparentemente doente, no hospital.

Comoção nacional. Todos viramos árbitros e partimos para o massacre contra a mãe-monstro. Sabe-se lá o que a levou a deixar a criança? E se ela está com depressão pós-parto? O que se passa dentro do coração daquela mulher? O que a levou a fazer aquilo? Se ela se arrependeu e quer o bebê de volta, porque não facilitar e devolver, em nome do bem-estar das próprias crianças?

Difícil não julgar situações como esta e de tantas outras mulheres que estamos vendo jogarem seus filhos no lixo. O sentimento de querer a justiça é tão voraz que saímos disparando opiniões sem moderar os fatos. Julgamentos precipitados magoam. Ferem lá na alma. Sem querer, julgamos. Somos usuários de mídias sociais e multiplicou-se, sobretudo, a forma de julgar.

Na Bíblia, li acerca de uma qualidade que Deus instrui para os homens de ‘serem moderados’. Isso ficou na minha cabeça. Que orientação divina tão diferenciada! A própria palavra já traz um tom de aquietação, de reflexão antes da ação. Nos dicionários encontrei alguns sinônimos: cautela, atenção, cuidado. Ok, amigos, gostei disso e quero adotar como prática. Ajudem-me a ser moderada. E você, já praticou a sua moderação hoje?

sábado, 2 de abril de 2011

As xícaras de chá

Era a primeira visita depois de mais de trinta anos. Esperou-me na esquina conforme prometera. Olhos curiosos voltavam-se para nós. O corredor que dava para seu barraco era estreito. Água suja escorria pelos cantos. Mulheres sentadas na beira de suas portas faziam escova, pintavam as unhas da mão ou do pé. Pararam de falar quando passei. Sentia seus olhares em minha nuca. Ritmos de música se confundiam num alto volume. Funk, forró, sertanejo. Crianças brotavam por todos os lados assim como os cachorros, magros e com pelos opacos.

Chegamos em seu barraco. Mostrou-me o cômodo e cozinha de chão batido, com orgulho. Sentei-me à mesa da cozinha-sala, enquanto ela preparava o café. O cheiro do bolo assando impregnava o pequeno ambiente. De costas, contou-me um episódio em que eu, com dois anos de idade, caí doente no meio da noite. Morávamos num quintal com várias casas conjugadas. Ouviu o choro da minha mãe e lá foi bater na porta. Entrou e já foi me pegando no colo. “Miúda, corpinho mole, mole, os olhos revirando”, relembrou a Dona Maria. Fez a reza, deu-me um banho com ervas e me colocou para dormir. No dia seguinte, o milagre. Acordei brincando e comendo.

Estava bem idosa. Quando criança eu já a achava velha. Tinha medo de chegar perto pois a imaginava como uma bruxa. Era evangélica agora. As coisas da magia ficaram no passado. A simplicidade do barraco me tocava, pela limpeza e por acessórios tão singelos. Pediu-me ajuda para pegar a caixa que estava em cima do armário. Vi que era algo recém-comprado. Quando ela abriu, meus olhos ficaram vidrados no lindo jogo de chá. Finas xícaras brancas com rosas vermelhas. Lavou cada peça com cuidado enquanto rememorava. Depois que me curou, minha mãe passou a comprar um botão de rosa vermelha para eu colocar no altar dos santos. Ela me pegava no colo para eu alcançar o altar, depois me colocava no chão e eu saía correndo.

Aquele conjunto de xícaras significava o quanto eu era especial. Eu olhava o armário e via outras xícaras e copos simples. Dona Maria poderia ter usado qualquer peça daquelas! Um turbilhão de sentimentos tomou conta de mim. Vim embora tomada por um sentimento de reencontro com as coisas simples, de imensa felicidade e paz!

Poucas semanas depois o telefone da minha casa tocou. Era Marlene, filha da Dona Maria comunicando-me que sua mãe falecera. Ela não encontrou o meu telefone para informar do velório e só agora conseguira achar o número no meio das coisas da mãe. Atendia a um pedido especial de me presentear com aquele jogo de chá das rosas para meu enxoval. 'Coisa dos antigos', sorriu a filha ao telefone com o mesmo tom de ternura da mãe.

O vapor do chá sai da xícara e faz desenhos no ar. Sinto o carinho da Dona Maria e vejo seu sorriso e olhar cheio de amor. ‘Minha menina, essas rosas vermelhas são para você’.

terça-feira, 29 de março de 2011

Uma Chance

Faltavam alguns minutos para as 6h. O azul intenso do céu de Outono estava salpicado por nuvens cinzas, anunciando um dia nublado. A avenida que corta a cidade de leste a oeste já estava congestionada. Liguei o rádio. Música suave? Não. Precisava de algo mais contagiante para começar o dia. Sintonizei em uma estação para adolescentes. Em um dos programas, para pedir a música, você canta um trecho ao telefone. É engraçado ouvir uma voz desafinada cantando em sua melhor performance. Assim como cada um de nós, em sua intimidade. Um outro programa é dedicado a acordar pessoas queridas com uma mensagem e música dedicada. Era este o programa que estava no ar àquela hora.

A radialista anunciou com cerimônia. A ouvinte que ligou estava vivendo um dia determinante em sua vida. Ela acordara em seu último dia como uma mulher casada. No dia seguinte assinaria o divórcio. Solenemente, a radialista encerrou a apresentação e passou a palavra. O pedido de perdão e de uma nova chance veio com o coração aberto na mensagem para o marido. Centenas, ou milhares de ouvintes, tornaram-se testemunhas da declaração corajosa em meio a uma sentença marcada para ocorrer. A música ‘No one’, da Alicia Keys, arrematou o pedido com a paixão de quem arrisca tudo.

Chan.ce
Possibilidade de algum acontecimento independente de intenção humana (Dicionário Priberam)

Chance, do Francês 'cheance'. Original Latim cadentia: aquilo que cai de forma randômica. Risco, oportunidade. (Online Etimology Dictionary).

Mesmo sem conhecer a história do casal, cada um tem seu voto. Em dias que a intolerância, o egoísmo e a vaidade são valorizadas, pedir por uma chance ou pelo perdão é visto como atitude para os fracos. No sermão da Montanha, Jesus ensinou seus discípulos que bem-aventurados são os humildes de espírito porque eles herdarão o que Deus tem prometido. (Mateus, 5).

Bem-aventurada esta mulher. A chance lhe foi dada!

domingo, 27 de março de 2011

Da conexão com os outros

Comecei a dirigir não faz muito tempo, creio que 5 ou 6 anos. Lembro-me que, para me concentrar na direção, propus-me a ficar uns dois meses sem rádio. Foi uma estratégia para me concentrar no som do motor e entender a necessidade de mudança de marcha. E deu certo! Na época, tinha um amigo que morava em Madrid e lhe narrava os acontecimentos mais arrebatadores de uma motorista iniciante. Ele se divertia com minhas inseguranças e vitórias diárias. Eis que, rapidamente, tornei-me uma ótima motorista. Na verdade, em São Paulo, todos são ótimos motoristas, é questão de sobrevivência!

A independência e a liberdade foram os melhores legados do meu esforço pela nova aquisição. Poder sair sem depender de alguém. Poder voltar de um lugar no momento em que eu quisesse. Poder ajudar minha família. Deixar de carregar coisas pesadas. Agendar compromissos em qualquer lugar da cidade. São inúmeras as vantagens que me fazem, até hoje, agradecer a Deus quando dou a partida. E como são vários os sentimentos que emergem naqueles primeiros tempos em que a vida muda por conta de uma grande conquista, tive também momentos contraditórios.

Confortável e segura dentro do meu carro, olhava melancólica para os pontos de ônibus cheio de gente e pensava: ‘eu devia estar lá com eles’. Sentia-me solitária. Sentia-me egoísta com aquele ar-condicionado, música e guloseimas só para mim. Por diversas vezes chorei no carro por sentir uma tristeza pelo outro que não tinha o que eu tinha acabado de conquistar. Momentos de profundo pesar misturavam-se aos momentos de imensa alegria. Enfim, sentia-me desconectada.

O tempo passou e o sentimento controverso foi cedendo lugar ao desfrute pleno da conquista. Ser motorizada já é parte da minha rotina. Todavia o contexto da conexão com os outros se mantém especial quando uso o metrô, por exemplo. Adoro a sensação de entrar num vagão e me deparar com mulheres com seus filhos, idosos, jovens. Pessoas lendo livros, revistas, ouvindo música, falando ao celular. Os anjos do filme “Asas do desejo” invejavam esses momentos que julgamos irrelevantes mas que são momentos de uma vida comum. E é esta conexão que sinto quanto estou perto daquelas pessoas. Algo corriqueiro mas que faz um grande sentido para mim: eu simplesmente gosto de gente!

domingo, 20 de março de 2011

Preciso de sua mão agora

Uma mulher equilibrada.
Às vezes, uma garotinha
que faz grandes confusões.
Um homem de bom senso.
Às vezes, um homem que
precisa resgatar a garotinha
e lembrá-la de que é a mulher
que ele ama.
A mulher precisa de sua mão agora.