domingo, 27 de março de 2011

Da conexão com os outros

Comecei a dirigir não faz muito tempo, creio que 5 ou 6 anos. Lembro-me que, para me concentrar na direção, propus-me a ficar uns dois meses sem rádio. Foi uma estratégia para me concentrar no som do motor e entender a necessidade de mudança de marcha. E deu certo! Na época, tinha um amigo que morava em Madrid e lhe narrava os acontecimentos mais arrebatadores de uma motorista iniciante. Ele se divertia com minhas inseguranças e vitórias diárias. Eis que, rapidamente, tornei-me uma ótima motorista. Na verdade, em São Paulo, todos são ótimos motoristas, é questão de sobrevivência!

A independência e a liberdade foram os melhores legados do meu esforço pela nova aquisição. Poder sair sem depender de alguém. Poder voltar de um lugar no momento em que eu quisesse. Poder ajudar minha família. Deixar de carregar coisas pesadas. Agendar compromissos em qualquer lugar da cidade. São inúmeras as vantagens que me fazem, até hoje, agradecer a Deus quando dou a partida. E como são vários os sentimentos que emergem naqueles primeiros tempos em que a vida muda por conta de uma grande conquista, tive também momentos contraditórios.

Confortável e segura dentro do meu carro, olhava melancólica para os pontos de ônibus cheio de gente e pensava: ‘eu devia estar lá com eles’. Sentia-me solitária. Sentia-me egoísta com aquele ar-condicionado, música e guloseimas só para mim. Por diversas vezes chorei no carro por sentir uma tristeza pelo outro que não tinha o que eu tinha acabado de conquistar. Momentos de profundo pesar misturavam-se aos momentos de imensa alegria. Enfim, sentia-me desconectada.

O tempo passou e o sentimento controverso foi cedendo lugar ao desfrute pleno da conquista. Ser motorizada já é parte da minha rotina. Todavia o contexto da conexão com os outros se mantém especial quando uso o metrô, por exemplo. Adoro a sensação de entrar num vagão e me deparar com mulheres com seus filhos, idosos, jovens. Pessoas lendo livros, revistas, ouvindo música, falando ao celular. Os anjos do filme “Asas do desejo” invejavam esses momentos que julgamos irrelevantes mas que são momentos de uma vida comum. E é esta conexão que sinto quanto estou perto daquelas pessoas. Algo corriqueiro mas que faz um grande sentido para mim: eu simplesmente gosto de gente!

3 comentários:

  1. Nossa, me identifiquei totalmente com cada momento de sua experiencia como "nova motorista", afinal,comecamos a dirigir e sentir a sensacao de independencia por ter um carro mais ou menos na mesma epoca. Me lembro ate hoje da imensa felicidade e das lagrimas nos olhos de quando estacionei meu carro pela primeira vez na garagem do predio. Somos privilegiadas, amiga, nao somente pelo fato de ter um carro e poder dirigir, mas de conhecer e reconhecer momentos simples de conexao com os outros, como no caso de usar o metro, que voce citou no texto. Beijos

    ResponderExcluir
  2. Parabéns Mônica ! Tanto pela conquista da carteira de motorista assim como também por gostar de estar em contato , em sintonia com as pessoas ! Você contagia ...Se suas palavras encantam imagina sua presença ?!

    ResponderExcluir
  3. Parabéns Mônica ! Tanto pela conquista da carteira de motorista assim como também por gostar de estar em contato , em sintonia com as pessoas ! Você contagia ...Se suas palavras encantam imagina sua presença ?!

    ResponderExcluir