Faltavam alguns minutos para as 6h. O azul intenso do céu de Outono estava salpicado por nuvens cinzas, anunciando um dia nublado. A avenida que corta a cidade de leste a oeste já estava congestionada. Liguei o rádio. Música suave? Não. Precisava de algo mais contagiante para começar o dia. Sintonizei em uma estação para adolescentes. Em um dos programas, para pedir a música, você canta um trecho ao telefone. É engraçado ouvir uma voz desafinada cantando em sua melhor performance. Assim como cada um de nós, em sua intimidade. Um outro programa é dedicado a acordar pessoas queridas com uma mensagem e música dedicada. Era este o programa que estava no ar àquela hora.
A radialista anunciou com cerimônia. A ouvinte que ligou estava vivendo um dia determinante em sua vida. Ela acordara em seu último dia como uma mulher casada. No dia seguinte assinaria o divórcio. Solenemente, a radialista encerrou a apresentação e passou a palavra. O pedido de perdão e de uma nova chance veio com o coração aberto na mensagem para o marido. Centenas, ou milhares de ouvintes, tornaram-se testemunhas da declaração corajosa em meio a uma sentença marcada para ocorrer. A música ‘No one’, da Alicia Keys, arrematou o pedido com a paixão de quem arrisca tudo.
Chan.ce
Possibilidade de algum acontecimento independente de intenção humana (Dicionário Priberam)
Chance, do Francês 'cheance'. Original Latim cadentia: aquilo que cai de forma randômica. Risco, oportunidade. (Online Etimology Dictionary).
Mesmo sem conhecer a história do casal, cada um tem seu voto. Em dias que a intolerância, o egoísmo e a vaidade são valorizadas, pedir por uma chance ou pelo perdão é visto como atitude para os fracos. No sermão da Montanha, Jesus ensinou seus discípulos que bem-aventurados são os humildes de espírito porque eles herdarão o que Deus tem prometido. (Mateus, 5).
Bem-aventurada esta mulher. A chance lhe foi dada!
Pensamentos que voam
terça-feira, 29 de março de 2011
domingo, 27 de março de 2011
Da conexão com os outros
Comecei a dirigir não faz muito tempo, creio que 5 ou 6 anos. Lembro-me que, para me concentrar na direção, propus-me a ficar uns dois meses sem rádio. Foi uma estratégia para me concentrar no som do motor e entender a necessidade de mudança de marcha. E deu certo! Na época, tinha um amigo que morava em Madrid e lhe narrava os acontecimentos mais arrebatadores de uma motorista iniciante. Ele se divertia com minhas inseguranças e vitórias diárias. Eis que, rapidamente, tornei-me uma ótima motorista. Na verdade, em São Paulo, todos são ótimos motoristas, é questão de sobrevivência!
A independência e a liberdade foram os melhores legados do meu esforço pela nova aquisição. Poder sair sem depender de alguém. Poder voltar de um lugar no momento em que eu quisesse. Poder ajudar minha família. Deixar de carregar coisas pesadas. Agendar compromissos em qualquer lugar da cidade. São inúmeras as vantagens que me fazem, até hoje, agradecer a Deus quando dou a partida. E como são vários os sentimentos que emergem naqueles primeiros tempos em que a vida muda por conta de uma grande conquista, tive também momentos contraditórios.
Confortável e segura dentro do meu carro, olhava melancólica para os pontos de ônibus cheio de gente e pensava: ‘eu devia estar lá com eles’. Sentia-me solitária. Sentia-me egoísta com aquele ar-condicionado, música e guloseimas só para mim. Por diversas vezes chorei no carro por sentir uma tristeza pelo outro que não tinha o que eu tinha acabado de conquistar. Momentos de profundo pesar misturavam-se aos momentos de imensa alegria. Enfim, sentia-me desconectada.
O tempo passou e o sentimento controverso foi cedendo lugar ao desfrute pleno da conquista. Ser motorizada já é parte da minha rotina. Todavia o contexto da conexão com os outros se mantém especial quando uso o metrô, por exemplo. Adoro a sensação de entrar num vagão e me deparar com mulheres com seus filhos, idosos, jovens. Pessoas lendo livros, revistas, ouvindo música, falando ao celular. Os anjos do filme “Asas do desejo” invejavam esses momentos que julgamos irrelevantes mas que são momentos de uma vida comum. E é esta conexão que sinto quanto estou perto daquelas pessoas. Algo corriqueiro mas que faz um grande sentido para mim: eu simplesmente gosto de gente!
A independência e a liberdade foram os melhores legados do meu esforço pela nova aquisição. Poder sair sem depender de alguém. Poder voltar de um lugar no momento em que eu quisesse. Poder ajudar minha família. Deixar de carregar coisas pesadas. Agendar compromissos em qualquer lugar da cidade. São inúmeras as vantagens que me fazem, até hoje, agradecer a Deus quando dou a partida. E como são vários os sentimentos que emergem naqueles primeiros tempos em que a vida muda por conta de uma grande conquista, tive também momentos contraditórios.
Confortável e segura dentro do meu carro, olhava melancólica para os pontos de ônibus cheio de gente e pensava: ‘eu devia estar lá com eles’. Sentia-me solitária. Sentia-me egoísta com aquele ar-condicionado, música e guloseimas só para mim. Por diversas vezes chorei no carro por sentir uma tristeza pelo outro que não tinha o que eu tinha acabado de conquistar. Momentos de profundo pesar misturavam-se aos momentos de imensa alegria. Enfim, sentia-me desconectada.
O tempo passou e o sentimento controverso foi cedendo lugar ao desfrute pleno da conquista. Ser motorizada já é parte da minha rotina. Todavia o contexto da conexão com os outros se mantém especial quando uso o metrô, por exemplo. Adoro a sensação de entrar num vagão e me deparar com mulheres com seus filhos, idosos, jovens. Pessoas lendo livros, revistas, ouvindo música, falando ao celular. Os anjos do filme “Asas do desejo” invejavam esses momentos que julgamos irrelevantes mas que são momentos de uma vida comum. E é esta conexão que sinto quanto estou perto daquelas pessoas. Algo corriqueiro mas que faz um grande sentido para mim: eu simplesmente gosto de gente!
domingo, 20 de março de 2011
Preciso de sua mão agora
Uma mulher equilibrada.
Às vezes, uma garotinha
que faz grandes confusões.
Um homem de bom senso.
Às vezes, um homem que
precisa resgatar a garotinha
e lembrá-la de que é a mulher
que ele ama.
A mulher precisa de sua mão agora.
Às vezes, uma garotinha
que faz grandes confusões.
Um homem de bom senso.
Às vezes, um homem que
precisa resgatar a garotinha
e lembrá-la de que é a mulher
que ele ama.
A mulher precisa de sua mão agora.
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