“Esta revista
é daqui do salão?”, perguntou a distinta senhora que sentou-se ao meu lado. “É minha. A senhora quer dar
uma olhada?”, perguntei. “Não, não. É que minha filha trabalhou nesta revista.
Ela escrevia a revista inteira!” E assim engatamos uma conversa. Elizabeth era
seu nome. Tinha três filhas, uma professora, uma jornalista e a outra, advogada,
contou com orgulho. Além de distinta, era uma senhora bonita. Olhos verdes
amendoados, sorriso sincero e feliz. E aquela simpatia de gente que "garra" a
falar descontraidamente. O marido falecera de acidente de carro quando as
meninas eram pequenas. Viveram juntos 20 anos, entre casamento e namoro. Perguntei qual das três sentiu mais a falta
do pai. “Ah, as três”, respondeu resoluta. Ficou alguns minutos pensativa,
depois virou-se para mim, abriu um sorriso, “Vou te contar uma coisa”, num tom
de revelação.
Quando moça,
Elizabeth gostava muito de revistas. Uma tia combinou que leria as revistas
durante a semana e ela poderia pegá-las no sábado a tarde. O pai emprestava o carro
e ela seguia para a casa da tia. Quando chegava, o tio preparava leite com
groselha. Ela tomava o leite já folheando as revistas. Era um sábado alegre,
“de um céu azul nevoado”, ressaltou, quando olhou pela janela e notou um rapaz
do lado da rua, numa oficina mecânica. Moreno claro, fartos cabelos escuros e
encaracolados. “Tio, chama aquele moço aqui? “. Pois Elizabeth era resoluta
deste muito moça. Ela subiu as escadas para ajeitar o cabelo e quando desceu o
tio tinha trazido o moço. “Muito prazer, meu nome é Elizabeth”. “Sou Ricardo”.
“Ricardo, você está namorando? “. “Não. Acabei de terminar um namoro e estou
livre como um pássaro. E e estou gostando de ficar assim”. “Ah, que pena.
Porque eu estou solteira também. Mas tudo bem, foi um prazer conhecê-lo (deu a
mão em cumprimento). A vida segue. Com
licença”. Com o sorriso e simpatia habitual, revistas na mão, deixou o
moço com o tio e se foi. Naquela noite, Ricardo apareceu em sua casa e a pediu
em namoro para o pai. Namoraram durante cinco anos. Viveram juntos durante mais 15
anos até o acidente fatal.
A
manicure chegou para me atender. Dei um beijo e um abraço na Sra. Elizabeth.
Pintei as unhas de um azul bem clarinho em homenagem ao céu daquele dia em que
se conheceram.
Vi o azul...
ResponderExcluirOlá...que bela história, e que belas surpresas que as pessoas nos dão quando todos nós nos permitimos ser sociáveis. Uns com os outros. Muito bacana! Obrigado por compartilhar! bjs.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAs vezes só precisamos prestar um pouco mais de atenção ao mundo, ele tem histórias fantásticas pra nós... nem que seja na espera da manicure, :). Adorei... bjocas
ResponderExcluirQue bacana. Como é legal esta coisa que as pessoas influenciam sem nem perceber.
ResponderExcluirO azul ficou realmente muito bonito. Com certeza foi um dia especial! :)
Que bela história!!! Incrível a forma como o amor chega as pessoas. Adorei!!
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