domingo, 16 de fevereiro de 2014

O esmalte azul


“Esta revista é daqui do salão?”, perguntou a distinta senhora que sentou-se ao meu lado. “É minha. A senhora quer dar uma olhada?”, perguntei. “Não, não. É que minha filha trabalhou nesta revista. Ela escrevia a revista inteira!” E assim engatamos uma conversa. Elizabeth era seu nome. Tinha três filhas, uma professora, uma jornalista e a outra, advogada, contou com orgulho. Além de distinta, era uma senhora bonita. Olhos verdes amendoados, sorriso sincero e feliz. E aquela simpatia de gente que "garra" a falar descontraidamente. O marido falecera de acidente de carro quando as meninas eram pequenas. Viveram juntos 20 anos, entre casamento e namoro.  Perguntei qual das três sentiu mais a falta do pai. “Ah, as três”, respondeu resoluta. Ficou alguns minutos pensativa, depois virou-se para mim, abriu um sorriso, “Vou te contar uma coisa”, num tom de revelação.

Quando moça, Elizabeth gostava muito de revistas. Uma tia combinou que leria as revistas durante a semana e ela poderia pegá-las no sábado a tarde. O pai emprestava o carro e ela seguia para a casa da tia. Quando chegava, o tio preparava leite com groselha. Ela tomava o leite já folheando as revistas. Era um sábado alegre, “de um céu azul nevoado”, ressaltou, quando olhou pela janela e notou um rapaz do lado da rua, numa oficina mecânica. Moreno claro, fartos cabelos escuros e encaracolados. “Tio, chama aquele moço aqui? “. Pois Elizabeth era resoluta deste muito moça. Ela subiu as escadas para ajeitar o cabelo e quando desceu o tio tinha trazido o moço. “Muito prazer, meu nome é Elizabeth”. “Sou Ricardo”. “Ricardo, você está namorando? “. “Não. Acabei de terminar um namoro e estou livre como um pássaro. E e estou gostando de ficar assim”. “Ah, que pena. Porque eu estou solteira também. Mas tudo bem, foi um prazer conhecê-lo (deu a mão em cumprimento). A vida segue. Com  licença”. Com o sorriso e simpatia habitual, revistas na mão, deixou o moço com o tio e se foi. Naquela noite, Ricardo apareceu em sua casa e a pediu em namoro para o pai. Namoraram durante cinco anos. Viveram juntos durante mais 15 anos até o acidente fatal.
A manicure chegou para me atender. Dei um beijo e um abraço na Sra. Elizabeth. Pintei as unhas de um azul bem clarinho em homenagem ao céu daquele dia em que se conheceram.

domingo, 7 de julho de 2013

Uma carta para Luciano Nassyn


No bar Na Mata Café foi onde você comemorou seu aniversário de 40 anos. Sábado, 06 de julho de 2013. No balcão do bar, esperando pela minha amiga Simone, via pessoas chegando com embalagens de presentes. Não imaginava que era para você.
O show da sua banda começou tocando grandes sucessos de rock. Foi emocionante vê-lo no palco interpretando os sucessos que sempre ouvimos e curtimos durante nossas vidas, nossos 40 anos recém completos.

“Uma vida pra lembrar”, diz a música “Incompleto”. No palco, você dedicou esta música a seus pais declarando que sua vida seria incompleta sem eles.  Uma declaração que só é capaz de se concretizar na maturidade em que chegamos. Na maturidade que nos faz começar a enxergar as coisas que realmente importam em nossas vidas. Aquele momento me tocou assim como deve ter tocado muitas outras pessoas. O pequeno Luciano, do Trem da Alegria cresceu e virou um homem incrível sem deixar de lado o garoto sapeca que está em nossa memória. Seu olhar, Luciano,  ainda é o mesmo daquele garoto. E me fez pensar que também sou aquela mesma garota que ouvia as músicas do Trem da Alegria e que cresceu e é feliz!

E então aquele palco do Na Mata Café se tornou um espelho. Te ver ali cheio de luz, energia e gratidão pelas pessoas de sua vida me fez lembrar de que crescemos e nos tornamos pessoas incríveis também. A presença da Patricia Marx, que ficou horas esperando para entrar, tornou o momento ainda mais especial. O abraço de vocês trouxe o passado para o presente e simbolizou uma jornada que valeu a pena porque lançamos nosso coração ao que nos entusiasma, ao que nos faz vibrar, sem a angústia que caracteriza os tempos atuais. Porque nós crescemos num tempo em que o mundo era menor e nos protegia e hoje, as nossas caras de meninos é a melhor marca do tempo que vivemos pois crescemos acreditando que podemos sim vencer as forças do mal (como bradamos na música He-Man!).

Que todas as pessoas especiais que estavam no Na Mata Café naquela noite sejam propagadoras da luz de amor e gratidão que você emanou. A pessoa especial ao meu lado foi a viajante no tempo nessas poucas e transformadoras horas de reconexão com a essência da pura alegria de viver. Valeu,  Si!

E, mais uma vez, Luciano Nassyn, parabéns! Que você tenha o melhor ano de sua vida!


Com carinho,
Monica

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Se

Se fosse cantora
te faria cantar.
Se fosse folha
te faria cair.
Se fosse mar
te faria rebentar.
Mas como sou
dançarina,
te faço dançar...
em meu corpo!

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Serena


Nas sombras da noite num deserto te encontrei.
O barulho do vento na areia.
A lua traçava um rastro de brilho insinuante naquela vastidão.
O infinito morava ali.
Ecoava na escuridão as batidas de um coração
asserenado pela lépida luz da alma.
A luz de uma vida
que se renasce
a cada dia que amanhece.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Fluir

Uma vaga
que traga para o mar
a vida que se consome.
Uma veia
que abre caminho
para a vida que pulsa.
Uma voz
que articula o som
e a expressão do amor que se faz.

sábado, 17 de março de 2012

Anjo e demônio

As suas verdades
Trilham caminhos falsos,
Trilhas que se perdem.
As suas palavras
confusas, ambíguas,
tecem linhas no vácuo
Linhas etéreas.
Os extremos do bem e do mal
Seduzem a alma para além das vagas
Do mar do amor que beira a loucura
De um espírito tragado pela fúria.